Serpentes dançam sensuais em seu mundo. Não me sobra nada além de guizos e venenos. Você não foi capaz de me discernir. Eu não sou a comida que eu vomito, nem sou costurada com a mesma linha imprestável dos meus vestidos. Caracóis saem de suas cascas e riem da minha desgraça. Lúcido, você se confunde com seus flashs, com seus brilhos insuportáveis. Tripés. Lentes sujas. A sala agora tem a dimensão de uma fotografia 3 por 4. Os objetos fogem dos meus dedos, calos enormes atrofiam minhas mãos. Não sou Cristo, não tenho chagas, mas minhas feridas sangram com ardor divino. Não tente apalpar o impossível. Deus tentou me alertar, pena que nunca acreditei em ninguém. Cega. As traves incomodam meus olhos. Olhos na testa. Peixes mortos fingindo vigílias. Insulinas e agulhas, jamais aprendi a conviver com elas. Cateteres povoam meus braços. Morro e a morte cheira álcool e éter. Não posso continuar aqui esperando Lúcio voltar. Talvez ele não volte. Talvez tenha encontrado consolo em outros braços, em mundos menos complicados e exigentes. Um lugar onde as luzes penetrem docemente as janelas e haja violetas e gerânios na varanda. Aqui, a luz é vulgar e indecente e os cactos apenas sobrevivem sugando a fresta da minha escuridão. Pequenas cavernas se escondem no porão. Saio e procuro desejos. Sodoma e Gomorra e minhas ruelas estreitas espremendo vértebras. Alguém que possa tocar a minha pele e me causar arrepios. Um rio verde e tempestuoso escorre da minha boca. Mastigo carvalhos e cuspo flores. Minha vida descansa solene à margem.
marcia barbieri
domingo, 14 de dezembro de 2008
MOSAICO DE RANCORES: CAPITULO 23
Diario do Sonho domingo, 14 de dezembro de 2008
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