segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

diane rebouças


É a vida
É , a vida é cheia de bons momentos e horas difíceis
Pois tem horas que a gente não entende
nem se quer tenta compreender, ou compreende
Mas as coisas são duras e sempre diferentes

A vida é cheia de altos e baixos
Pois caso fosse só baixo ninguém levantaria do fundo do poço
E caso fosse só altos ninguém sairia do topo do muro
Ninguém enxugaria uma lágrima, nem abriria um sorriso.

Muita gente tem medo do que vem pela frente
Já que cada dia pode ser um dia diferente
Podendo lhes deixar triste ou contente
Sem parar na caminhada porque atrás vem gente.

A vida também pode ser bela
Pode ter as cores de uma aquarela
Só depende de como você encara ela
Pois o sol todo dia ilumina sua janela

É bem melhor sair daquela escuridão
Sorrir para a vida e abrir seu coração
Aprender a ouvir ‘sim’ e a ouvir ‘não’
E ser um alguém no mundo e sua multidão

Aproveitando momento por momento
Expondo aquela pessoa bela que tem lá dentro
Enxergando a beleza do sol e o encanto do vento
Pondo para fora o seu ‘eu’ e o seu talento
Diane Rebouças.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

a poesia de daniel lopes

SÓ DESSA VEZ

Anjos e meninas despencam da janela do sétimo andar
E um vento audaz corta as asas e os corpos
Estou sentado na calçada
e tento montar o quebra-cabeças da nossa vida que rasguei.
corre comigo que eu corro contigo...
sonhos pingando das torneiras...
colchas remendadas no centro...
E um cheiro amargo de manhã que me estupra as retinas.
Estou só e mal acompanhado
Com o gosto do teu gozo escorrendo dos lábios
E o cheiro dos teus dedos me afagando os cabelos...

Teu sorriso constrói manhãs...
Teu sorriso cura os doentes...
Teu sorriso canoniza meninos de rua,
E me cura do espólio ardente do pó.

Anjos e meninas despencam
E um vaga-lume acaricia o piano
Enquanto os bem-te-vis,
imitando o som de um corvo,
Repetem “never more”.

Manhã de morte em mim
Ao mesmo tempo em que uma menina compra pão
Manhã de morte em mim
Enquanto o investigador pede um pingado
Manhã de morte em mim
Enquanto o mendigo revive na primeira pinga do dia
As amarguras dos cinqüenta e dois anos anteriores.

Flor de ir embora
Teu reflexo partido no espelho em doze mil ilusões
E eu desencantado sem saber bem o que fazer com as mãos
(Eu tenho doze mãos)
Então a porta se fecha e o espelho reflete a porta,
E a porta está sempre fechada.
O mundo é teu, menina
Tudo o que posso fazer é estender teu vestido vazio e vermelho na parede da sala.
Na imagem da memória,
Você tem dez anos e se balança em frente a um campo de rosas,
BRANCAS, dessa vez.
Só dessa vez..

DANIEL LOPES

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ao nada

interminável vontade de nada mais fazer. Articular palavras sem buscas concretas. Sem prazos sem metas. Como esfera rolante em gramas baixas, sinto que as redes me aguardam mais cedo ou mais tarde. Banho-me de conforto num dia em que a sabotagem quer distância de mim. Nas primeiras horas de uma segunda feira recomeço a labuta e obrigo a ação a não mais ser exata. Absoluta certeza do vazio, me entrego ao nada e ouço a noite na espera do amanhã.


mvchiev
matheus vianna

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 24








Meu corpo são cavalos arredios e sem freios, são ladeiras esperando precipícios, suicidas à beira do abismo. Meu ventre inchado ferve e eu espero lavas. Imagino a agilidade das mãos de Lúcio me tocando. Acordes e guitarras. Cifras e letras e posições. Lençóis e retalhos e migalhas de amores amanhecidos. Ele não está aqui e meus dedos parecem frágeis demais. Cafés em xícaras de porcelana. A noite está clara e me oferece mundos fáceis de manejar. Tudo está enquadrado em uma foto que não posso ver. O mundo perfeito das idéias. Enquanto ele cria universos, eu vivo entre marionetes sujas, amputadas e mortas. Anões me observam. Penso no sofrimento que não me fez maior nem mais forte, apenas atrofiou meus sonhos. Sinto a quentura da boca do leão que não me devorou. Angústias oferecidas em copo americano, para ser tomada em grandes goles. Esbarro em pessoas, entro. O bar cheira cigarro, bebida, suor e traição. Judas troca sua vida por dez reais e uma tragada. Sento sozinha na primeira mesa que tropeço. Agora espero paciente uma serpente se enrolar feito venda em meus olhos. Rios verdes deságuam no meu sexo. Guardo nas minhas impressões digitais minúsculas pedras vulcânicas. Desejo mãos imperfeitas devorando e corrompendo meus seios.

marcia barbieri

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

@ Orelha do livro MULHER DE MINUTOS de monica montone

Posso dizer meu nome, minha idade, o que faço e quais são meus planos para o futuro.
Isso me faria apresentável?
Arqueira por excelência, as palavras são minhas flechas.
Tanto podem salvar, como matar.
Tenho a juventude fresca na pele, os sonhos de uma criança e os desejos de uma mulher.
Elemento ar.
Aprendi que a solidão pode ser bela, já não me assusto mais com ela.
Gosto de calcinha branca, de algodão.
Não gosto de feijão, tampouco carne.
As massas se esparramam melhor em minha boca.
Tenho seios de pêra, com bicos claros.
O céu é meu teto para o que for.
Detesto gente que fala o trivial!
Mau gosto, novela, mortadela.
Musiquinha de caminhão de gás ao telefone quando se espera ser atendido.
Gente que ostenta, que acredita que ter é ser. Meu riso é largo.
E a palavra meu ofício.

@ Orelha do meu livro MULHER DE MINUTOS
monica montone

Acaso sou eu o demônio de mármore?
Dividido entre a incompreensão e o medo?
Acaso sou eu quem distribui beijos de sangue?
E faz do amor um acessório vendido em sex shop?
Um par de tumores me faz as vezes de sapato.
Um par de cancros me faz as vezes de luvas.
Um par de pragas faz as vezes de chapéu
da minha cabeça dividida.
Sou um dragão embaixo de chapéus coco.
Caracóis coloridos despencam dos meus bolsos.
(Só quando estou sentado)
Silêncios esvaziam minha boca.
(O tempo todo)
Marcho cabisbaixo por caminhos que se bifurcam
Sem Pátria
(O Norte é bem mais quente)
Sem carinhos
Sem ternura
Sem nada
A taça da delicadeza
Quebrei-a em dez mil vontades
Um blues ainda consola a timidez dos objetos
Um sol negro estático baila no meu peito
Um arco-íris flutua em minhas veias
Toda noite
Mesmo quando conto anedotas estou triste
Meu ventre está cheio de merda, querida.


daniel lopes
http://pianistaboxeador21.blogspot.com/

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

LENDA UMBILICAL

Ser um na árvore,

ser a sombra que assombra

como a fome na escuridão das raízes,

ser o tronco e a seiva

ou não ser nada no esconderijo

do lenho

que virou madeira

para o meu telhado,

ou um trono nobre

que faz as cercas para o gado,

que não vira a mesa do acaso...

Madeira,

vira papel que escrevo agora

vira o piso do meu tablado

que vira casca e a lasca,

o símbolo de uma nação;

a cruz ,

da redenção,

para uns,

ou da discórdia

para quem ardeu na fogueira...

Ser nó da madeira?

Que importa,

sobre o capuz

nada é imperdoável...



LUCIANO FRAGA



Livremente inspirado em trabalho do artista plástico Ruela.