Não se precisa mais do que um par de pernas indigestas para ser vítima de um assédio. E esta noite tudo que espero é ser devidamente subtraída. Um jogo de sedução no qual não há damas nem reis nem rainhas, apenas xeque-mate e cavalos mansos que se deixam acariciar. Olhos de cegos julgam meus atos. Oráculos não desvendam meu destino. Mandalas giram como cinzeiros encima da mesa. O garçom se aproxima com passos rápidos e certeiros. Um copo de gim. É o que se pede em filmes americanos. Carrego rancores e disfarço. As máscaras vestem meu rosto e são minhas feições mais verdadeiras. Homens passam e devoram pedaços indesejáveis de mim. Ruminantes. Sinto meu coração pulsar através da minha jugular. Tenho litros de amor a oferecer, mas não posso despejá-los sobre qualquer taça. Corda bamba. Cavalos relincham ao meu redor, ignoro. Um rapaz toca levemente minhas coxas e me convida para dançar. Aceito, sei das suas intenções e elas são exatamente as mesmas que as minhas. Suas mãos deslizam sobre minhas costas e tocam meus quadris. Tremo. Elas são macias e quentes e despertam despudores. Gaivotas galopam meu corpo. Dentes perfeitos mastigam minha carne. Peixes nadam em meu umbigo. Um rio verde e calmo explode dentro de mim. Remos me conduzem. Retalhos são sombras de coisas mortas.
marcia babieri
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
mosaico de rancores: 25
Diario do Sonho quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
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